Nem a gravidade do bronze,
Nem a densidade do mármore ou do alabastro
Tem um sentido para essas criaturas intangíveis.
Issos são só umas conchas vazias,
Umas carapaças efémeras,
Projeção do ideal deles
Numa matéria para nós mais acessível,
Tradução da natureza etérea deles
Para os nossos sentidos rudes.
E se as intempéries erodam-nos,
Se as asas deles caiam,
Cansadas de não terem levantado voo,
Se os olhares deles murchem-se da nossa indiferença,
Conformam-se,
Fora de alcance desta decrepitude demasiado material.
Porque neles permanece sempre a força
De proteger-nos e de abençoar-nos,
Como uma necessidade intrínseca
Tão pouco paga em compensação.
Os olhos deles interrogam-nos e perguntam-nos
Olhares apaziguadores, desviados ou francos
Não julgam, nem avaliam
São apenas abertos sobre nos
Com paciência e resignação
Come se nada tivesse nenhuma importância.
E fazê-los soprar numas trompas inexistentes
Ilude-nos de importância,
Embora sejamos bem incapazes
De ouvir a música celeste deles.
Mas não têm rigor disso,
Porque bebem no cálice do Tempo
E sabem bem que nós tornaremos só pó,
Enquanto flutuaram mais e sempre
Além da nossa compreensão humana.
Lugar: Montreal (Canadá)
Anos: 2003-2004