Os traços regulares,
O rosto impassível
De uma beleza fora de alcance,
Indiferente.
Reflexo condensado na matéria
De uma luz celeste,
Sensualidade confusa,
De um braço tão leste.
Mesmo quando a carga está pesada demais,
Quando os ombros se verguem sob a emoção,
Quando o pudor se esconde na profondidade dos braços,
O rosto fica impassível,
Os traços perfeitos inalterados,
Como um segredo mal guardado.
Nenhuma lágrima vem encher estas órbitas vazias,
Pois nenhuma emoção é suficientemente forte
Para se libertar da matéria
Senão em mimo e falsa aparência.
Porém adivinhamos debaixo da tona
Um crânio igual ao nosso,
E nesses olhos cegos que nos desdenham,
Projetamos a esperança um pouco louca
De uma presença indecisa
Da qual poderíamos ter ciúme.
Como se um sinal fosse suficiente
Para que esses olhos se virem enfim
E que cruzamos um olhar
Que não seja carregado de nada.
O que dizer enfim dessas súplicas,
Dessas rosas que nos estendem?
Desta candura ficamos pudicos,
Nunca estaremos amantes.
Lugar: Montreal (Canadá)
Ano: 2003